Hoje assisti a um filme sensacional. Estava passando casualmente pelos canais quando caiu em algum Telecine que exibia um filme brasileiro com o título de "A Mulher Invisível". Ouvira falar das más - e das boas também - línguas que era um filme muito engraçado, mas não esperava de jeito nenhum (ainda mais sendo uma pessoa tão preconceituosa com o cinema brasileiro) de que aquele filme, a princípio bobo, me daria uma enorme lição sobre o meu próprio comportamento.
Pois bem, vamos à história. Não do filme, mas de mim mesma (egocêntrica e ultraromântica do jeito que sou). Eu nunca liguei para aquilo que os machistas que se dizem realistas falam que as mulheres prestam atenção em um homem: idade, dinheiro, carro. Primeiro, porque eu me interessava por meninos mais novos. Risca a idade. Segundo, porque eu abomino dependência financeira (o único homem que é autorizado a pagar minhas contas é o meu pai). Risca o dinheiro, os restaurantes caros, os presentes. Terceiro, porque, detesto dependência de qualquer forma, e agora tenho meu carro próprio. Risca a mercedes. Entretanto, como ser humano, eu também tinha inúmeros defeitos. Um deles, talvez o pior, era levantar barreiras. Sim, construir muralhas, afastar-me do mundo, fingir que não queria fazer parte dele. Como na lenda dos Nibelungos (também uma ópera de Wagner e minha história nórdica favorita), quando a valquíria Brunhild é colocada dentro de um círculo de fogo, e o único capaz de atravessá-lo era aquele que a tomaria por esposa - nesse caso o nome dele era Siegfried. Sim, eu esperava o meu Siegfried. Esperei por todos esses anos, achei que o encontrei e perdi, e depois percebi enfim que ele não existia. Esperei todos esses longos anos por aquele que teria coragem de atravessar o círculo de fogo. Não queria carro, jóias, dinheiro. Esperava apenas pela coragem, ou ao menos a vontade de atravessar.
Um dia eu realmente achei que tinha encontrado. Eu tive certeza. Entretanto, era apenas mais uma fábula (ainda por cima não era nada nórdica!) que eu acreditara piamente para fugir da realidade. No filme que eu vi hoje, o homem decepcionado com o amor (Selton Melon, atuação brilhante) se apaixona por uma mulher invisível que só existia na cabeça dele. E eu descobri algumas horas depois do fim do filme que eu era exatamente como o protoganista. Eu me apaixonei por uma pessoa que não existia. Alguém que eu criei, inventei qualidades e o pior, menti para mim mesma dizendo que o cavaleiro de capa azul atravessaria as muralhas porque valia o esforço trazer a donzela solitária. Porém, ao fazer isso, eu só construia mais muralhas, que me separavam da realidade. No filme, o protagonista ignora e deixa de perceber a vizinha verdadeiramente apaixonada por ele, pois distrai-se com a mulher "ideal". Ideal, não real, como depois ele vai frisar. E foi exatamente isso que eu fiz: fechei portas achando que estava as abrindo. Tudo porque eu criei um ídolo e construí um pedestal.
Mas a realidade caiu como um raio.
A estátua do ídolo foi destruída.
E as muralhas continuaram lá.
E possivelmente não existe nenhum Siegfried, pois esse já morreu nos contos nórdicos ou nas óperas germânicas, em algum lugar da Dinamarca talvez, por onde os vikings passaram, deixando um rastro de poeira.
Poeira fina que se esfarela como vento, assim como ilusão, ou como um amor a alguém invisível.
Todo filme tem um fim.
Não sei se fico triste ou feliz. Acho que só vou decidir isso quando conversar com você!
ResponderExcluirAnyway, tudo de bom procê! Bem vinda ao mundo real, então.
=*
Foi foda. Um DOUBLE master mega blaster FAIL
ResponderExcluirAh, notinha de rodapé para os leigos:
ResponderExcluirEm Nibelungenlied, Brünhild é colocada em um círculo de fogo como castigo de Odin por ter salvo o bebê Sigmund(que futuramente seria o pai de Siegfried), pois ele era fruto de um adultério de Odin e a esposa dele mandara-o matar (bizarro é que seguindo a lógica Siegfried seria "meio-sobrinho" de Brunhild, pois ela é filha de Odin). Apenas um jovem "viril" (naquela antiga concepção de masculinidade) e forte poderia tirá-la do círculo e tomá-la como esposa. Assim, a valquíria (=deusa nórdica responsável por trazer as almas dos cavaleiros ao palácio de Odin para a batalha final do Ragnarok) fica adormecida por anos até que Siegfried vai lá e consegue despertá-la. Eles se apaixonam e blablabla E tem o resto da história,que na verdade é mais importante, mas não vou me delongar.
Preciso quebrar minhas barreiras, fato. E ir ao real, também.
ResponderExcluirPorque as princesas nunca se apaixonam pelo Dragão que guarda a fortaleza. Poxa, ele está disposto a dar a vida para protegê-la.
ResponderExcluirNão que se aplique ao caso, só um pensamento aleatório.