terça-feira, 27 de abril de 2010

Traição

Depois daquele dia nada mais foi o mesmo. Ele não parecia a mesma pessoa, depois que ela descobrira sua falta. Grande falta. E toda manhã, ela acordava como que com uma corda em seu coração, apertado pelos erros de alguém que não era ela. E a troco de quê? Ele telefonava, dizia onde estava. Mas quem disse que ela acreditava? Aquelas palavras viravam apenas sussurros, talvez mentiras, omissões... no fim eram de igual ilusão. E ela se reprimia. O que era a verdade, naquele instante? Perdida em um monte de cartas, um entulhos de presentes e falsas juras de amor. Ah, o amor. Esse amor bandido que nos rouba o Tempo e o calor com a juventude, e leva com ele todos os sonhos perdidos. Ele dizia que estava com os amigos. E a todo instante ela pensava e se martirizava, será que ele estava com a outra? A outra... mas quem era a outra nessa situação? Se cada uma dessas pobres almas só tinham apenas metade de um suposto relacionamento. Uma meia verdade, metade de um abraço sincero, um beijo partido ao meio, apenas o "eu te" de um "eu te amo" deflagrado pelos dias, que carregaram consigo aquela onda de paixão. Ela tinha pena da outra, que iria sofrer os mesmos ventos, que levaram consigo a paixão dos primeiros dias. Ela tinha pena, porque afinal fazia parte do outro lado do espelho. Se ele não aguentara por ela, por que aguentaria por outra? Mas era profundamente egoísta, pois não aceitava que talvez ele a amasse de verdade. Mas que Amor? Que diabos de Amor era aquele que precisava matar algo tão bonito, tão solene, deixando em migalhas alguém que um dia já fora importante. Que tipo de Amor nasce do fim de uma relação? Que tipo de Amor precisa destruir até o pó alguém apenas para poder sobreviver ao mundo de decepções que virou essa vida conjugal? Que tipo de Amor maltrata, humilha, e cresce de uma mentira sem fim, brotando da Terra? Ela não podia crer que um Amor banal e supérfluo surgira assim de sua relação desgastada. Nunca quisera admitir que aquele relacionamento tão sincero e juvenil havia se desgastado e agora era um velho em fase terminal. E ainda por cima, ele a enganara. Como pôde depois de tantos momentos alegres, tantas confidências, tantas promessas e encantos? Como conseguia ele ainda olhar em sua face e dizer que a amava com quase a mesma entonação de outrora? Era um bom ator. Essa era a única resposta para tantas questões que lhe frustravam e a impediam de confiar em outrem. Não conseguia imaginar como uma criatura, ser de Deus, pudesse ser tão cruel e fria ao cantarolar as palavras doces de manhã ao lado de seu ouvido esquerdo e sussurar "bom dia" para a pessoa que sempre estava ali, quando em algumas noites o bandido passava-as bebendo na casa de uma prostituta sem nome. Divertindo-se. Nem sempre a troco de dinheiro, essas vadias aparecem para arruinar a vida de quem seja. Procurando a paixão perdida em outros corpos que não fosse o da amada esposa, enquanto o matrimonial amor morria no café, ao desperdir-se, ao ligar o aparelho de televisão, ao desligar o telefone. Ou talvez, meus caros amigos, ele nunca estivera ali a não ser em corpo, em matéria, quando sua alma contorcida e viciada pairava longe e os pensamentos lhe fugiam. E ele queria ter o controle da situação, mas não podia.

3 comentários:

  1. "Chifre é coisa que colocam na cabeça da gente" é a frase de que me lembrei depois de ler o post. De que adianta ficar remoendo?

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  2. É uma das sabedorias do meu irmão: "De duas coisas nessa vida você deve ter certeza:
    1- você vai morrer
    2 - você vai ser chifrado"
    ahuheouiha
    mas remoer não foi o objetivo, o objetivo do post vem a seguir...
    não percam os próximos capítulos

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  3. Essa verdade é absoluta
    O unico jeito de burla-la é virar padre/freira

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