Dylan apagou o resto do seu
cigarro na madeira do deck. O relógio ainda não marcara meia-noite e a lua
enorme pairava no céu como um grande balão perfeitamente redondo. Ele observava
o lago escuro iluminado unicamente pela luz da grande esfera no céu, além da
fragilidade dos postes. Era noite de ano novo e ele estava, mais uma vez,
sozinho.
O final do ano e particularmente
aquela data sempre o fazia lembrar as poucas amizades que tivera na vida. Tinha
muitos colegas, parceiros de festas talvez, mas de todos havia realmente poucos
que considerava amigos. Pensava constantemente no significado da palavra
“amizade”. Para ele, deveria se algo que durasse para sempre, mas cada vez
habituava-se a se acostumar com a partida das pessoas.
Todos acabavam partindo, afinal.
Questionava-se se era um problema dele. Será que Dylan era chato demais?
Quadrado demais? Um pouco antiquado, talvez? Será que não tinha inteligência
suficiente, carisma ou personalidade? O que estava ausente nele? Começava,
então, a listar, um a um, os que se foram.
Bob, seu melhor amigo no colégio.
Eles faziam tudo juntos: iam à escola juntos, estudavam para as provas, foram
da mesma sala várias vezes. Mas os anos passaram, Bob fez novos amigos na
faculdade e sumiu.
Milly, sua colega de sala na
universidade. Os dois sempre iam ao cinema, conversavam sobre quase tudo e
tinham os mesmos objetivos na vida. Até que um dia ela arranjou um namorado e
sumiu.
Pedro, amigo que conheceu em
uma festa. Foi seu amigo até decidir que nunca mais iria encostar a boca em um
copo de cerveja. E então, sumiu.
Esses eram apenas exemplos dos
muitos casos de amizade passageira, que ia e vinha, mas nunca ficava ou
permanecia de fato. Ele queria alguém que não fosse seu amigo apenas na hora da
carona ou de empréstimo de dinheiro. Costumava-se dizer que havia diversos
tipos de amizades, no entanto, Dylan sempre acreditou que a característica
elementar era a constância, o fato de sempre estar lá ou de ao menos estar
disponível. Ou o “querer bem” que nunca acabava. “Nunca acabava”, eternidade.
Talvez essa fosse apenas mais uma
disputa que Dylan tinha consigo mesmo. A busca pelo eterno, por algo que não
terminasse, por alguém que não fosse embora. Alguém que não fosse. E assim ele
esperava mais um ano terminar. Sentado no deck observando as águas escuras do
lago. Águas que iam e vinham devagar, mas estavam sempre ali, quando ele
precisava delas.
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