sábado, 22 de dezembro de 2012

A felicidade da qual fora excluído

Uma das minhas cenas favoritas no filme "Peter Pan" (boa adaptação da belíssima peça de J.M. Barrie) acontece ao final do filme: Peter observa, da janela, uma Wendy contente com seus irmãos e os meninos perdidos, agora adotados pela família da menina. E a narradora afirma que ele observava a única felicidade da qual não poderia jamais participar, ois fora permanentemente excluído.

A exclusão nesse caso, porém, tratava-se de uma escolha: Se Peter realmente quisesse passar a sua vida inteira com a supostamente amada Wendy, bastava abdicar da Terra do Nunca e de sua infância eterna. Ela fizera essa oferta, mas ele recusou, pois era o menino que não podia crescer. O verbo mais correto, entretanto, não era "podia" e sim "queria". Ele não queria crescer, porque ele no fundo ele tinha medo das consequências trazidas pelo "crescer".

É claro que o filme muda diversos pontos da peça de Barrie, mas o fundamental está bem ali visível aos olhos de quem assisti: o medo de crescer, de mudar de fase, de seguir adiante. Peter Pan é mais que um personagem infantil, ele é a encarnação dos medos de muitas crianças e adultos: a repulsa de assumir as responsabilidades associadas à vida adulta. No entanto, devido a essa aversão, ele também perdia não apenas a responsabilidade, mas também os diversos elementos positivos trazidos pelo crescimento, entre eles a companhia de Wendy e a vida que os dois poderiam ter juntos.

A vida é feita de escolhas e das consequências que essas escolhas no trazem. Todas as escolhas são difíceis, porque as consequências são imprevisíveis. Como saber se Peter realmente tivesse abdicado de sua infância eterna Wendy teria ficado com ele pelo resto de suas vidas? E se ela casasse com outro e Peter se arrependesse amargamente de ter crescido? Poderia acontecer, assim como eles poderiam ter sido felizes para sempre.

Os anúncios, as propagandas, as morais contidas nos filmes, e todo um universo de elementos incentivam a busca pela felicidade. Entretanto, é difícil buscar algo que não se sabe o que é. Seria ela a Terra do Nunca? Ou seria um dia feliz com a Wendy, mesmo que apenas um dia? São perguntas sem resposta. E é essa ausência de certeza absoluta que nos exclui de uma série de possibilidades... e de felicidades.


Uma observação importante: A peça original  do Sr. Barrie (na verdade um conjunto de peças, das quais a mais famosa chamava-se "Peter and Wendy") não era destinada ao público infantil, mas sim um texto para adultos!

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