sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Pedaços

A vida passa sem piedade. Passa rápido que antes de conseguir piscar os olhos, as crianças já foram embora, os adultos já vieram, a bebida terminou, as luzes da festa se apagaram. Há quem compare a vida com uma estação de trem: um local de espera, onde transitam diariamente uma quantidade impressionante de pessoas. A estação existe devido aos seus sujeitos: os transeuntes que precisam se mover de um local a outro, às vezes com pressa, às vezes sem ela. 
Alguns trocam palavras, outras números e endereços que serão jogados e esquecidos no bolso, na gaveta do trabalho ou na lixeira mais próxima. Alguns trocam olhares, outros certezas e tem uns ainda que vão para não voltar. Alguns carregam dúvidas, outros apenas um vazio que pesa em suas consciências. Alguns são apenas solitários, outros acreditam nas amizades que nunca tiveram de fato. Alguns conhecem seu destino, outros vão se aventurar, alguns perderam o trem escolhido.
Mas a característica mais marcante de uma estação de trem é que ela passageira. Ela só irá fazer parte da vida daqueles que a atravessam por apenas alguns momentos, minutos ou horas, sempre de espera. E são poucos os que gostam de esperar.
E a cada chegada e partida, um abraço, um olhar triste, um aceno de mão. Como se a cada momento as partes se transformassem em partes menores. E as partes menores se movem de lugar, mudam-se de um lado a outro, como milhões de fluxos, de passagens, palavras e novidades que vão se multiplicando até  que se perde o controle e não se sabe mais de quem era aquele choro, ou aquele abraço, ou aquela música favorita. Partes que são perdidas, encontradas e reencontradas por aqueles que esperam na estação. 
E a estação se torna uma mistura de cores, sabores, rostos conhecidos, estranhos, familiares que vão desbotando em uma só canção. Uma canção triste, de adeus. E as partes que se foram jamais serão recuperadas. Pois dentro da estação, há muitos que esperam somente pelo último trem.

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