sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Nesse final de ano, um brinde aos amigos que nos abandonaram

Eu sempre idealizei as coisas passadas. Talvez não soubesse valorizar o presente ou o futuro não se mostrasse tão palpável. Mas queria o passado. Não só queria, como o desejava. Como alguém à beira de um colapso em um deserto. Alguém que trocaria todos os diamantes do planeta por uma jarra de água. Uma necessidade momentânea, um lapso de felicidade. Nas memórias ofuscadas por uma alegria efêmera. O desejo altera as lembranças, e as lembranças mudam o juízo de valor.
E talvez fosse por isso, esse desejo de iludir-se, que eu sempre acreditei nas amizades antigas.  E as mensurava através da contagem dos anos, da quantidade de momentos em conjunto, e principalmente daquelas saudáveis lembranças, que mal sabia eu, corroíam minha alma pelo avesso.
Mas os anos passam, as fotografias amarelam com a poeiram ou então perdem-se nos confins do baú da memória. Os detalhes não sobrevivem à morte de alguns neurônios, ao envelhecimento da massa cerebral. E com elas, se vão os vínculos. Algumas amizades persistem através de épocas devido aos vínculos eternos do estar junto, do gostar de estar. Outras infelizmente desaparecem com a troca de telefone, a mudança de cidade ou de país, os desencontros da vida. E ainda existem aquelas que sobrevivem, como um pobre ser morimbundo, às sombras daquilo que algum dia foi mas não existe mais. E você quer que exista. Você quer, porque sente que as lembranças são como um manto opressor. Elas estão ali, fiscalizando se você ainda almoça com aquela pessoa, se ainda conversa com ela, e te obrigam a ligar naquele aniversário,a aparecer com o melhor presente que você possa dar, a estar presente. Quando na realidade não existe mais nada. Nada além de um passado que já foi embora.
E a cada encontro, os mesmos assuntos: aquele dia em que fizemos, aquela viagem que tivemos, os doces dias daquele verão... e todos os pronomes demonstrativos que só demonstram a quantos anos aquilo foi. Não é mais. Não há nada no presente além das lembranças que insistimos em resgatar.

Por isso, proponho um brinde a todos aqueles que não fazem mais parte das nossas vidas, mas que insistem em estar presentes apenas em corpo e memória, como um passado nostálgico que insiste em nos lembrar que existiu. Mas não existe mais.
Que eles não atrapalhem nossos futuros e não subjulguem nossos presentes, que nos deixe encontrar novas amizades, para formarmos assim um futuro diferente.

tim-tim

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