quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Um sonho perdido

Eu andava no Colégio e aquele lugar me trazia lembranças. Andava conversando com alguém, distraída, procurando escutar os sons da infância. Não sabia direito se ainda estudava lá ou se voltava para rever o colégio que por seis anos e seis meses fora meu recanto, meu refúgio, minha paz exterior, meu conflito interior, minha casa. Não sabia de nada, além de que andava em companhia de pessoas de rostos não muito nítidos e que eu sabia que conhecia, sabia que conversava, mas não me importava. Andava por ali, perto da rampa do corredor da quinta série, ao lado do velho quiosque dos amores mal fadados e das aulas não assistidas. Andava sozinha em pensamentos e repleta de pessoas, quando escutei um som que parecia familiar. Vinha de um grupinho. Um grupinho de garotos como outro qualquer. Aliás, poderia ser um grupinho de garotos qualquer se não fosse pela presença... dele. Poderia ser qualquer garoto, mas não era. Era ele. Ele que fora embora há quatro anos sem deixar nada além das lágrimas no banquinho. Ele que fizera acreditar, e então desacreditar, e então me perder para me encontrar. Ele que me fizera sonhar e roubara o meu sonho, assim como todo o Amor que eu podia ter doado a alguém nesses anos, mas não! ainda era dele e ele o levara sem dar nenhuma satisfação. Sem mais nem menos. Ele que tinha se despedido em uma parada de ônibus, o mesmo lugar do primeiro beijo. O primeiro e o último de uma primavera que acabou em prantos e desencantos, despedidas e mortes de cigarras, como se fosse o fim do Amor na Terra. E naquele momento ele estava lá, de branco, camiseta formal, calça preta, como para alguma solenidade. Rindo com o mesmo sorriso triste que um dia conquistara o coração de uma garota. Ou de duas. Ou de três. Quem sabe quantas se perderam naquele sorriso doce? Naquele abraço protetor. Se bem que aquele sorriso era meu. Era meu porque apenas eu sabia o que ele escondia. E naquele momento, ele estava de volta. Uma palpitação. Uma outra mais. Paralizada no asfalto duro do colégio. Eu paro, olho, não posso mais pensar. A respiração é uma agonia. E então eu corro ao encontro dele. E ele se desvia dos amigos rindo de algo dito. E a felicidade é tão grande, imensa, e eu digo na minha mente "espero que não seja um sonho, espero que não seja um sonho". Não pode ser, parece tão real. A feição é a mesma, o sorriso é aquele, a pessoa é a pessoa certa. Tem que ser real. Eu vou correr com aquela sensação de felicidade que se encontra em um doce comprado pela avó. Mas eu vou correr até e tudo vai ficar bem. E a felicidade aumentando, e os pés acelerando, até que...
eu acordo.
hora de ir para a universidade.
lidar com as pessoas.
não encontrar quem eu quero.
estudar, ler, assistir aula.
ir à reunião.
discutir, prestar atenção.
almoçar em vinte minutos.
ir à academia
chegar tarde em casa e fazer os trabalhos.
dormir tarde.

mas antes de tudo,
para o teto, lanço um olhar
aquela dor de decepção.
a vontade de querer voltar
uma pontada no coração
um romance não lido
um fim sem história
foi apenas mais um sonho perdido
trancado no baú da memória.