sábado, 29 de maio de 2010

Vícios e virtudes

Na vida, não há garantias. A única certeza de que temos durante a jornada é que o final é a morte. Mas embora tenhamos esse mínimo de consciência, insistimos, lutamos, tentamos sobreviver. E depois que os anos passam, nos damos conta do quanto erramos para chegarmos lá. Se os acertos são importantes, os erros são mais ainda. Como saber que aquela escolha não era a certa sem ter errado? Como previnir consequências maiores sem antes ter provado das pequenas? É o erro que move o ser humano, a prova empírica de que aquilo não vai funcionar, a suspeita do futuro baseado na experiência passado, o medo, o nojo, derivam também disso, além do pré-conceito de que algo é degustante. Existem pessoas que não conseguem viver com os erros. Das outras, delas mesmas. Existem pessoas que vivem remoendo o passado, buscando formas de voltar atrás, consertar, mudar, sempre pensando no "e se"... E se eu tivesse dado a oportunidade que ele merecia? E se eu não tivesse viajado? E se eu escolhesse outra coisa? E nesse pretério mais-que-perfeito imperfeito, as pessoas se perdem calculando quais escolhas deveriam ter sido feitas. Uma vez, eu bati o carro em uma árvore. Na verdade eu passei raspando, de propósito, achando que não ia amassar nada, saindo de um estacionamento que parecia um buraco. Mas amassou. E ficou muito feio. Muitas vezes eu me perguntei como pude ser tão idiota. Fazer algo tão estúpido e desejei voltar ao passado.  Depois pensei que uma hora ou outra, aquilo era um evento inevitável, eu ia fazer de qualquer jeito, e menos mal que fosse um evento menor, o que faria com que eu aprendesse e evitasse maiores tragédias sendo mais cuidadosa. E ainda depois, quando me acostumei com os arranhões e o amassado no meu carro, percebi que na realidade ele ficava bem mais charmoso assim. Quer dizer aquilo fazia agora parte do carro e principalmente parte de mim: dirigir mal é uma característica minha. E maior dificuldade das pessoas em aceitarem seus erros é na verdade aceitar o que elas são: aceitar que são egoístas, péssimas amigas, distraídas, desajeitadas ou que se vestem mal ou possuem um estilo diferente. Ninguém é igual e existem muitos mais defeitos do que qualidades. A diferença está no grau com que aceitamos esses defeitos. É quando o vicio se torna um virtude. Quando se vê beleza na imperfeição e o feio se torna belo. E é só nessas condições que o verdadeiro amor floresce. Aceitar como são. Uma vez, minha mãe falou que não existe ninguém perfeito para o outro. Oras, mãezinha, ser perfeito nesse contexto não é ser desprovido de defeitos, mas pressupõe um amor tão enorme que faz com que esses defeitos virem qualidades: a franja meio emo dele, o jeito desajeitado de andar. A forma com que ela derruba tudo, suas roupas mal passadas. O amor, le vraiment amour, the truly love, abraça essas características e vê beleza onde os outros não vêem. E é aí que se reconhece o Amor. Mais difícil ainda do que amar outra pessoa, é amar nós mesmos: aceitar que não temos o corpo de uma Bárbie ou a inteligência do Einstein. Que nossa meta de ler 50 livros não foi realizada, que nos demos mal naquela prova, que passamos vexame naquela festa, que na escola éramos taxados de nerd. Essas características vão estar sempre presentes, como arranhões de um carro, vão estar ali para lembrar-nos de ler mais e aproveitar mais as horas livres, estudar mais com antecedência, não bebermos tanto, não julgarmos as pessoas. A diferença é que às vezes o seguro cobre os arranhões e seu carro volta como novo. Mas a sua memória, ah meu amigo, ela ainda vai estar lá.
A não ser que você tenha memória de peixe ou contraia Alzheimer.

Porque não se pode voltar atrás e deixar de derramar o leite, mas sempre podemos limpá-lo do chão e recolher mais, mesmo que isso demande mais esforço.

domingo, 23 de maio de 2010

Aprendizagem

"Eu ainda me surpreendo com o fato de que as pessoas são extremamente idiotas."

É, ainda não sei dizer se resta esperança para a humanidade, pois quanto mais eu vivo mais vejo que elas são cruéis. Extremamente cruéis. E não importa o quanto existam pessoas boas, humildes, que tentam ajudar, parece que a maioria esmagadora é puro lixo hipócrita. Noventa por cento finge que é seu amigo, e fala mal pelas costas. Outros até dão sorrisinhos... ah esses sorrisinhos. E outros parecem que falam por códigos. Mas na primeira oportunidade, na primeirinha, naquele momento que você mais precisa, as pessoas te decepcionam. E é por isso que eu gosto tanto de livros. Por mais decepcionante que o final seja, aprende-se muito com o enredo.
Embora há quem diga, que se aprende muito com as pessoas também.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Carta a um amigo distante [1]

Querido amigo,

pensei tantas vezes em escrever, que acho que embaralhei inúmeras frases de rascunho, mas estavas tão feliz sem mim que achei que minha maluquisse era puro egoísmo. Já faz alguns anos que tu deixastes essa cidade nublada por ventos mais fortes e em todo esse período eu não deixei um segundo sequer de pensar no que estarías fazendo. A verdade é que essa falta me corrompeu. O costume, o hábito de encontrar teu sorriso todos os dias, muito embora naquela época ele fosse tão triste. Naquela época... às vezes me parece que passou milhares de anos. E no entanto, foram apenas quatro que passaram como um relâmpago. E ainda assim, como é relativo esse conveito de Tempo, em um segundo estavas lá em frente a rampa da oitava série esperando, e na semana seguinte desaparecera como uma brisa fria em um verão muito quente. Tanto mudou durante esses quatro anos que não sei como começar uma narrativa espetacular. Alguém disse uma vez, e meu professor de Teoria Política Clássica jura que foi um filósofo grego, que um mesmo homem não se banha no mesmo rio mais de uma vez. Eu acho mesmo que um mesmo homem não atravessa um mesmo rio mais de uma vez. E eu, que já atravessei o rio tantas vezes, tenho mudado tanto que às vezes tenho medo de me perder de vez, de me transformar em alguém que eu não conheço mais. De fato, não escrevo tanto pela saudade, seria mentir dizer que morro por ti, que penso a cada segunda na tua existência. Acho que escrevo mais por medo. De que você tenha se transformado em algo que eu não possa mais olhar. Algo tão diferente do passado a que eu ainda me iludo, e invoco nos momentos mais difíceis e tristes, e principalmente nos decepcionantes. Porque eu ainda posso dizer "ah ele não era assim", "ele era diferente". Mas só de usar o verbo "era" eu me assusto. Tenho medo de perder todas aquelas lembranças. Tenho medo de perder tua imagem, que é a única coisa que me conforta nesses dias vazios. O fato de que o que vivemos tenha realmente sido de verdade, algo que não pode ser destruído por um tornado ou furacão, algo que sempre está lá.  O ser humano precisa mesmo disso... de memória palpáveis que não se destruam com o Tempo, o vilão cruel do Tempo, que às vezes é um amigo... há pessoas que merecem ser esquecidas... mas tu não és uma delas. E saber disso me consolou quando eu mais precisei. Saber que não mudastes. Mas talvez tenhas mudado... e isso me apavora. Ainda tenho o ursinho, e todas as músicas daquela época. Quando eu escuto, então, percebo que não foram os quilômetros que nos destruiu, porque deveras o que eu sentia e sinto agora é muito maior que algumas estradas. Uma vez falastes que ia me amar para sempre e eu reclamei, no fundo querendo acreditar, que era uma calúnia. Então, dissestes algo que ficou na minha mente e que só consegui entender nos dias de hoje: que o Amor se transformaria, que não seria o mesmo Amor, mas que seria Amor. E agora eu entendo que, eu não te amo mais como naquela época, mas sim como uma música. Sim, pois nós podemos escutar a mesma música mil vezes, e cada uma vai ser diferente. Até que um dia nós enjoamos, mas isso não significa que deixamos de gostar da música. E ela nos faz retornar a algo maior, uma série de imagens. E sempre que quisermos escutá-las, basta abrir o I-tunes. No entanto, eu não posso abraçar-te toda vez que eu quero, nem ao menos falar, nem conversar, nem ver teu sorriso triste, se é que hoje em dia ele ainda é triste, embora eu tente refutar comigo mesma, não fui eu que transformei essa tristeza em felicidade. Espero sinceramente um dia poder encontrar-te novamente. Sabe o que mudou, o que não mudou, porque eu sei, tenho certeza, que algum resto ou migalha daquela pessoa que eu conheci restou... e quem sabe talvez, eu não goste dessa nova pessoa que atravessou o rio? Atravesse-o de novo e venha me ver... porque eu não posso mais sentir falta de alguém que não existe ou que eu não conheço.

Com Amor,
De alguém que não te esqueceu durante esses quatros anos longe.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Everwood

Com o dia livre por causa dessa greve que nunca acaba, esse mês voltei a assistir um dos seriados que mais marcaram minha infância/adolescência. Isso porque também foi um dos primeiros, se não o primeiríssimo, que eu comecei a acompanhar e fui até o fim.

Everwood conta a história de um famoso neurocirurgião, Andy Brown, que depois do falecimento de sua esposa, tem que lidar com seus dois filhos, a quem não havia se dedicado durante toda a sua vida pois passara os anos todos dedicando-se a salvar a vida das pessoas, nos hospitais, enquanto a vida de seu filho mais velho tentava conviver com a ausência do pai. Antes de morrer, a esposa falara-lhe uma vez sobre uma pequena cidade no Colorado, em que havia passado uns dias na infância. Essa cidade era Everwood e em um momento de nostalgia, o grande Dr. Brown decide se mudar com seus dois filhos - Ephram e Delia - para a cidadezinha, onde passa a prestar serviços de clínica geral totalmente de graça. Assim, a vida de Andy muda para sempre. Em troca dos seus antigos pacientes ricos e famosos, ele passa a atender pessoas da pequena comunidade e se vê envolvido em cada caso, emocionalmente, transformando-se por dentro. Simultaneamente, ele tenta consertar os erros de um pai ausente, sempre direcionado em seu relacionamento com Ephram, que parece cada vez pior. No começo, todos os três têm difuldades para se adptar, além da imensa falta de Nova York e da mãe falecida. Ephram se apaixona por uma menina, cujo o namorado está em coma e Delia tenta fazer novos amigos na escola.



Por que Everwood cativa tanto? Para mim, pessoalmente, diversos motivos. Mas eu diria que primeiramente por causa da evolução dos diversos relacionamentos: Ephram-pai, Ephram-Amy, Ephram-Bright, Ephram-Delia. O que nos leva ao meu motivo pessoal: Ephram. Ele foi o primeiro personagem por quem de fato eu me apaixonei e ele resume tudo o que eu acredito que o Amor seja e o "par ideal" na minha concepção. Durante as 4 Temporadas, vemos o Ephram se apaixonar, se arriscar, tentar, ajudar, sempre ao lado daquela que ele ama, sempre apoiando, mesmo no começo ela apaixonada pelo Colin e só falando nos problemas do namorado em coma. Ele continua lá, em todos os momentos que ela precisa. Nós vemos o Ephram se relacionando com outras pessoas, como a Madison, e criando amizade com alguém improvável. Vemos como ele é um ótimo irmão e também como ele evolui como filho.  Vemos os sentimentos da Amy por Ephram aumentarem. Também vemos como uma família supera a morte de uma mãe-esposa formidável e como eles lidam com a mudança. E sem contar que Everwood tem umas paisagens admiráveis (lembra muito o Canadá, principalmente Whistler) e uma trilha sonora sensacional!
Não é a toa que continua sendo meu seriado favorito e eu recomendo a todos.



Inclusive vocês podem baixar,

Uma pequena prévia de uma das minhas partes favoritas:  http://www.youtube.com/watch?v=J4x-PntRm_A

Quem dera eu, passar uns meses, numa cidade dessas. Mas já que não posso, tenho que me contentar em assistir esses episódios.

PS: E o Gregory Smith é canadense, de Toronto, mas morou a vida inteira em Vancouver!!! Pena que descobri tarde demais.

sábado, 1 de maio de 2010

Continuando...

"What's the point?" alguns podem perguntar. Aonde você quer chegar com esse texto? Remoer? Desabafar? Não, não, senhores, essa época felizmente já se foi. Venho, humildemente fazer um apelo a qualquer um que esteja do outro lado da história. Como assim? Pois bem... Traições ocorrem direto. São mais comuns do que algumas pessoas assim, e ainda sim, fico totalmente impressionada em como a maior parte das pessoas que eu conheço tratam como extrema banalidade, um ato tão cruel e egoísta. Fundamentalmente egoísta. Perdoem-me, mas eu simplesmente não consigo crer que quem trai ama alguém do que a si próprio. E não apenas quem trai, mas penso principalmente e sempre nos cúmplices desse delito. É imensamente egoísta se relacionar com alguém comprometido e fatalmente me enoja sempre que noto que esse tipo de pessoa existe. E muito. É não pensar na outra pessoa que está sofrendo, ou se iludindo. É não pensar nas consequências, no amanhã. É simples e puramente ignorar os sentimentos de outro ou outra que amanhã pode ser você. Há quem diga que não se pode controlar os sentimentos, mas eu digo que não se pode controlar quando eles já estão evoluindo, no começo é bem possível controlá-los ou até deletá-los e falo isso por experiência própria. É sempre uma questão de escolha, no fim.

Por isso eu peço, que sempre, sempre, pensem na pessoa que está lá esperando, que está lá naqueles momentos, que está lá para você.
Porque no fim é ela que vai sofrer.

Eu tento enxergar o mundo através de outros olhos, e eu espero que em algumas situações vocês também.